30 junho 2008













V

O que chamamos o começo é muitas vezes o fim
E fazer um fim é fazer um começo.
O fim é de onde nós partimos. E toda a locução 
E frase que está certa (onde toda a palavra está em casa
E toma o seu lugar em apoio das outras,
A palavra nem hesitante nem aparatosa,
Uma relação fácil do velho com o novo,
A palavra comum exacta sem vulgaridade,
A palavra formal precisa mas não pedante,
A inteira companhia a dançar a compasso)
Toda a locução e frase é um fim e um começo,
Todo o poema é um epitáfio. E qualquer acto
É um passo para o cepo, para o fogo, pela garganta do mar abaixo,
Ou para uma pedra ilegível: e é daí que partimos.
Morremos com os moribundos:
Vê, eles partem e nós vamos com eles.
O momento da rosa e o momento do teixo
Têm igual duração. Um povo sem história
Não está redimido do tempo, pois a história é um padrão
de momentos sem tempo. Assim, enquanto a luz se extingue
Numa tarde de Inverno, numa capela isolada
A história é agora e a Inglaterra.
Com a atracção deste Amor e deste Chamamento

Não desistiremos de explorar
E o fim de toda a nossa exploração
Será chegarmos ao lugar de onde partimos
E conhecer o lugar pela primeira vez.
Através do portão desconhecido e lembrado
Quando o último confim da terra por descobrir
For o lugar que foi o começo;
Na nascente do rio mais longo
A voz da oculta queda-d´água
E as crianças na macieira
Desconhecidas, porque não procuradas
Mas ouvidas, meio-ouvidas, na quietação
Entre duas ondas do mar.
Depressa agora, aqui, agora, sempre-
Uma condição de completa simplicidade
(Que não custa menos do que tudo)
E tudo há-de ficar bem e
Toda a espécie de coisa há-de ficar bem
Quando as línguas de fogo refluírem 
Para o coroado nó de fogo
E o fogo e a rosa forem um.


T.S.Eliot
em Quatro Quartetos
tradução de Gualter Cunha

1 comentário:

Anónimo disse...

lindo! Até que enfim que se lê Eliot em português bem traduzido na Net!