29 junho 2008













Não penses, meu amor, que no meu seio guardo
o tumultar do sangue, o frenesim de que ardo,
os uivos dela, os gritos de bacante em cio,
quando, como uma cobra, sob mim se torce, 
e em beijos que remordem e na carícia urgente
vem o estertor final da consumada posse.

Mais doce és tu, amor, tão sossegada e calma - 
pelo prazer dorido com que eu sou todo alma
quando, após longamente suplicar-te ansioso,
com pudica modéstia cedes ao meu gozo
e a mim te dás enfim, mas desviando o olhar,
aos meus ardores tão fria e sem me ouvires falar,
mas despertando...ah quão tu devagar despertas...
até que, a contragosto, o meu prazer é o teu.


Pushkin
Tradução de Jorge de Sena

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