06 julho 2008

Jean-Arthur Rimbaud













Being Beauteous

  Perante uma neve um Ser de Beleza de grande estatura. Silvos de morte e círculos de música surda sobem, alargam, abalam como um espectro este corpo adorado; feridas escarlates e negras rebentam nas carnes soberbas. As cores próprias da vida escurecem, dançam, soltam-se em torno da Visão, no estaleiro. E os frémitos sobem e rangem, e o ácido sabor destes fenómenos somado aos silvos mortais e às músicas roucas que o mundo, longe atrás de nós, lança sobre a nossa mãe de beleza - ela recua, ela ergue-se! Oh! um novo corpo de amor reveste os nossos ossos.

                                                     * * *

Oh o rosto de cinza, o broquel de crina, os braços de cristal! O canhão sobre o qual devo abater-me na peleja das árvores contra o ar macio!


em Iluminações
Tradução de Mário Cesariny

1 comentário:

Anónimo disse...

Em francês tem outra musicalidade, mas em português tem ainda assim muita beleza.

O ideal é apreciar Rimbaud em versões bilingues. Eu comecei por um pequenino livro da Hachette, comprado na Corunha, com notas de rodapé muito boas.

("Rimbaud, Pages Choisies, Classiques Illustrés Vaubourdolle, comprado por 125 pesetas, ao pé do Ayuntamiento!).

Na Relógio D'Água também temos "35 poemas de Rimbaud", com tradução de Gaetan Martins de Oliveira.

Há muitos anos, no Franco-Português, assisti a uma peça interpretada pelo brasileiro Onivaldo Dutra (um monólogo de hora e meia) sobre Rimbaud.
Que provou à saciedade que se pode fazer grande poesia mesmo antes de ter idade para votar.

Sempre me fez confusão que a mesma obra de Rimbaud pudesse ter dois títulos tão diferentes em traduções portuguesas: "Uma estação no Inferno" e "Uma cerveja no Inferno".